5 marias

Paris. 2005-2006.

7.12.06

CROUS*

Domingo de manhã. Elas correm e respiram mijo no túnel sub-subterrâneo do Chatelet. Entram esbaforidas no trem. As axilas transpiram, o casaco prende. Não adianta tirar, já chegou. Port Royal, diz a placa. Desce, minha filha! Ao sair da estação, sob o céu cinza, as axilas secam imediatamente graças ao choque térmico. Mais uma caminhadinha, mais degraus e a fila: multi-étnica, jovem, pobre e esfomeada. Elas seguem pr’o fim arrancando as roupas: casaco, blusa 1 e blusa 2; a cara vermelha, as alemãs riem.
Não tem graça.
De repente, a fila amontoa. Agora é um tumulto de bandejas, sucrilhos amassados, leite derramando, suco quente; fila para os ovos, queijos, salsicha, outra para as saladas, pães e Atenção! A japa pegou o último pão de chocolate. Filha da mãe. Ela engole a raiva e conta os itens na bandeja freneticamente. Não pode passar de 2 e 70. “Todos têm direito a 6 sólidos e dois líquidos” marca o cartaz. Na frente do caixa, ela repete o gesto (un, deux, trois, quatre....) e, a cada número, toca o dedo indicador no alimento. Sete! O pão preto também conta! Não é justo. O caixa sorri gentilmente e a isenta dos 0,40 por item excedente, afinal, ela batizou o pão com seu indicador imundo.
Ela sorri. De repente, eles são higiênicos. Ganhou um pão.
Senta-se com as outras. Falam muito e retardam propositadamente a digestão. Como de hábito, são expulsas do refeitório. Ok, hora de enrolar o croissant no guardanapo para mais tarde. Saem para o banheiro. Do banheiro para a rua. Da rua para o parque. Do parque para um café qualquer. Até o último trem.
*Centre Regional des Oeuvres Universitaires et Scolaires De Paris

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