5 marias

Paris. 2005-2006.

1.8.07

Colchão

Muito mais de meia noite. Sozinha na cama. Olha para as sombras do teto: auréola de luz do abajur. Ela pensa: “Até agora não tive pesadelos”. Suspira e reza. Ela não podia ter pesadelos. Estava sozinha. Podia gritar em vão no meio da noite. A voz não desce sete andares de escadas. Ela só tinha Ela para dizer: Calma, foi só um pesadelo. Dorme. Respira. Reza. Pai nosso. Pai nosso. Dorme. Pensa no pai e na mãe. Já vai amanhecer.
E já de dia, Ela comemora: mais uma noite passou. Já tinha se acostumado a ter pesadelos e não gritar quando a amiga comprou um ‘colchão’ parisiense, (caro e muito fino!) para pernoitar no Cafofo. E ainda insistia no supremo conforto do colchonete: “Está ótimo! Cansada eu durmo em qualquer lugar!”
No meio da madrugada, a opinião é outra: “Que merda de colchão! Que mééérda! Vou devolver esta PORCARIA! Que ódio, eu sinto as lajotas do chão quando me viro".
A partir deste dia, Ela não estava mais sozinha. Em vez de pesadelo e grito, gargalhadas. Um ano de sonhos.

Contador de visitas
Contador de visitas