5 marias

Paris. 2005-2006.

17.5.07

Perecível

As aparências enganam e se desfazem às cinco horas da manhã, no meio da neblina e da garoa fina. A blusa preta de lã brilhosa para “ir mais arrumadinha” rasgou na altura das axilas na segunda semana. O crepe nutella-banane, antes, delicia boa, agora tem efeito de pára-quedas no estômago. O metrô, antes, rápido e eficiente, é rotina escura e corredor de rostos com ânsia de vômito. Os prédios históricos, tão bordados, rebuscados, dourados, são paredes sem fim, cor de poça suja, que sufocam o céu e as calçadas, agora muito estreitas para dois ao mesmo tempo. A história dos monumentos, praças, placas, buracos, traças, agora, são repetitivas e enfadonhas. Os novos amigos, simpáticos demais-demais, agora cansam nos primeiros dez minutos (ou segundos). As conversas, sino na cabeça. As máquinas digitais, pentelhas. A igreja esplêndida, entupida, oito mil turistas por segundo. O bairro ‘fofo’, agora é caro, lotado, dez mil gentes passando na roleta. O corte de cabelo, ultra-moderno, caro, aliás, tudo é caro, já está despontado e preso de oleosidade. O queijo, rançoso. A champagne, morna. O café, frio. A peça de teatro, longa. O museu, grande. O vizinho, con. O belo e bom estraga rápido.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

meu "essai" preferido!
saudades toujours
Fla

6:42 PM  

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