5 marias
Paris. 2005-2006.
24.3.07
18.3.07
O bêbado e a equilibrista
Sua única reação ao atentado é fazer o ordinário gesto com o dedo indicador – reflexo rápido de comunicação não-verbal. A porta fecha logo em seguida. Trinta minutos de gargalhadas e rímel borrado.
Bastille
Depois da aula, fome. As opções eram: 1.comer crepe e rachar uma coca num lugar sujo e barato. 2. tomar uma (1) taça de vinho no La Plage com o estômago vazio e italianos. 3. voltar para casa, comer cookies velhos/moles, e economizar 3 euros.
Mas, numa certa terça de fevereiro de menos 5 graus, aconteceu algo diferente. Elas foram ao Divã, pediram duas taças de tinto, uma vela, uma grande janela e 3.94.038.378 flocos de neve caindo lentamente. Pedido atendido. Elas choraram, depois riram; depois andaram com a alma leve, deixando pegadas brancas - sem nenhum arrependimento, enfim.
Le lapin
Ela morava numa casa que poderia ser - por que não - do núcleo rico da novela das oito. O bordado da almofada combinava com a moldura do quadro (abstrato). Havia um buda de bronze – e 1 metro e meio - na sala de jantar. A mesa valia um GOL zero km. Na cozinha, além de coisas estampadas em xadrez, Ela topava com uma gaiola e, dentro, um coelho gordo, marrom, orelhas caídas: Pirrouette.
Assim como o buda reluzente, Pirroutte era um adorno. Combinava com as cadeiras.
Ela, não acostumada a ignorar os seres-vivos, se afeiçoou ao animal. E quando os verdadeiros donos da casa viajavam, presenteava o coelho com liberdade, fraternidade e ração. Mas se arrependeu em seguida. Pirroute era indisciplinado e burro.
Uma vez solto no jardim, era preciso chamar o exército para resgatá-lo. Para alimentá-lo, corria-se um alto risco de ter a mão mordida/infectada e mais: Pirrouette fazia a gentileza de tampar o pratinho de ração com seu cabeção.
- Vai pra lá coelho burro!
Pirroutte também assustava suas amigas quando pulava na gaiola de repente. Aliás, ele ouviu as coisas mais absurdas e hilárias que um coelho poderia ouvir.
- Ah, se este coelho falasse! – diziam.
Um dia, Pirroutte morreu. Como diria um sábio garotinho francês:
- Tu sais, c’est triste la mort.